- É Jesus mesmo que nos interpela: "Quem dizem os homem que eu sou? E vós, quem dizeis que eu sou?" (Mc 8, 27-30). Podemos nos situar junto àquele pequeno grupo de discípulos, numa parada a caminho de Cesaréia de Felipe, e deixar ressoar em nossos ouvidos essas perguntas de Jesus... Certamente, a nossa resposta será fruto de algo profundamente pessoal: a nossa própria experiência de encontro com ele.
- O nosso conhecimento de Jesus tem a sua fonte na convivência do primeiro grupo de discípulos com ele. Jesus "chamou a si os que Ele quis", "para que fossem seus companheiros e para enviá-los a pregar, com autoridade para expulsar os demônios" (Mc 3, 13-15). É na dinâmica do anúncio do reino de Deus que vem com poder pelas ações de Jesus que aqueles galileus são chamados a se inserir. Ao longo da convivência diária daquele grupo com Jesus, durante aproximadamente dois anos, foi surgindo uma grande interrogação acerca do mistério daquele homem.
- Jesus se mostra como alguém de atitudes totalmente novas e surpreendentes. Ele age com liberdade diante da sagrada lei do trabalho, colhendo espigas (Mc 2 23-28), curando pessoas (Mc 3, 1-6). Ele não cumpre os rigorosos preceitos judaicos (Mc 2, 18-22; 7, 1-23). Fala com mulheres estrangeiras e desconhecidas (Jo 4, 9; Mc 7, 24-30) e é acompanhado por um grupo de discípulos (Lc 8, 1-3). Posiciona-se livre e criticamente diante dos grandes de seu tempo (Lc 13, 31-33; Mt 23, 1-32; Jo 18, 19-23 . 19, 9-11), sem se identificar com nenhuma das facções político-religiosas de Israel. Acolhe e cura os marginalizados (Jo 9, 1-7; Lc 17, 11-14), anda em "más companhias" (Mt 9, 10-13). Assim não é de surpreender que até sua família tenha chegado a pensar: "Enlouqueceu" (Mc 3, 20-21)
- E sua imensa liberdade também se manifesta na sua relação com Deus. Para Jesus, Deus é o Abba, o Paizinho, o papai. Com o Abba, Jesus tem plena intimidade , e passa junto d´Ele horas em oração (Lc 6, 12). Tal proximidade, ele ensina seus discípulos a cultivar a vida de oração, ensinando-lhes a oração do Pai-Nosso (Mt 6, 7-15).
- Todo o posicionamento de Jesus diante dos conflitos na sociedade de seu tempo, seu anúncio corajoso do Reino, sua nova atitude em relação a Deus, desencadeou o processo que o levou à sua prisão, à Paixão e à Morte na Cruz. Essa foi uma profunda crise para o grupo dos discípulos. "Nós esperávamos que fosse ele quem iria libertar Israel" - disseram os de Emaús (Lc 24, 21). Todas as seuas esperanças esvaíram-se no escândalo da Cruz, a morte mais terrível, reservada para os piores criminosos.
- Mas o aturdimento e o medo diante da perseguição sucede uma experiência inesperada: a convicção de que "O Senhor ressurgiru e apareceu a Simão!" (Lc 24,34). A ressurreição brilhou como uma aurora que transformou completamente a vida dos discípulos. As vivências de encontro com o ressuscitado que se manifestou aos seus irmãos lhes trouxeram uma compreensão radicalmente nova acerca daquele homem com quem haviam convivido e lhes revestiram de força para enfrentar toda contradição oposição anunciando com destemor o Querigma: "Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras. Foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras" (1Cor 15,4). "Saiba toda a casa de Israel, com certeza: Deus constituiu Senhor e Cristo a esse Jesus que vós crucificastes" (At 2, 36). Sob essa nova luz, a Cruz se transforma em sinal de glória do Filho, que nela manifestou o seu AMOR até o fim (Jo 13, 1; 19, 30)
- Assim, a comunidade realiza uma profunda releitura de toda a vida de Jesus. E compreende nela todas as suas promessas a Israel (Lc 24, 25-27). Os oráculos de Salvação de Isaías foram concretizados nele: em Jesus, "O Senhor Deus destruiu a morte para sempre" (Is 25, 8); por ele, foram abertos "os olhos dos cegos e os ouvidos dos surdos... " (Is 35,5). Na luz do Ressuscitado, o Senhor será para sempre a luzdo seu povo, será o seu esplendor (Is 60, 19). Os discípulos então veem a sua concepção de Reino de Deus ser ampliada para muito além da libertação sociopolítica de Israel: o Reino é "o Reino do Filho Amado, no qual temos a redenção e a remissão dos pecados" (Col 1, 13). É a vida em plenitude a que Jesus tantas vezes se refere no Evangelho de João (Jo 3, 16; 14, 6). E o Reino está profundamente relacionado à própria pessoa de Jesus.
- Enfim, depois da Páscoa, a comunidade passa a compreender bem mais acerca do mistério do próprio Jesus. E emprega títulos para expressar a grandeza daquele a quem o Pai ressuscitou: Ele é o Messias (Cristo), O Senhor, o Filho de Deus... "De muitas maneiras falou Deus outrora aos pais pelos profetas, nestes dias que são os últimos, falou-nos por meio de seu filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual fez o mundo" (Hb 1, 1-2). A comunidade de João vai até a origem de tudo e contempla no Filho a Palavra que existe desde sempre, voltada para o Pai (Jo 1,1). Em Jesus, Deus Pai se disse, manifestou-se aos seres humanos.
- O Cristo ressuscitado não deixa a comunidade órfã: ele envia de junto do Pai, o Espírito Santo, o "espírito da verdade, que os conduzirá à verdade plena" (Jo 16, 13) É este mesmo Espírito que faz com que a comunidade recorde os ensinamentos de Jesus e tenha força e luz para responder sim a ele, que é o grande SIM do Pai a nós. Bebendo da fonte da vida de Jesus, somos conduzidos por ele ao mistério da vida da Trindade, fonte de vida plena para nós.
sexta-feira, 28 de agosto de 2020
JESUS: Beber das águas da fonte do seu mistério
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