Entranhas de Misericórdia
JO 8, 1-11
Jesus
foi para o monte das Oliveiras. Ao amanhecer, ele voltou ao Templo, e todo o
povo ia ao seu encontro. Então Jesus sentou-se e começou a ensinar. Chegaram os
doutores da Lei e os fariseus trazendo uma mulher, que tinha sido pega
cometendo adultério. Eles colocaram a mulher no meio e disseram a Jesus:
"Mestre, essa mulher foi pega em flagrante cometendo adultério. A Lei de Moisés
manda que mulheres desse tipo devem ser apedrejadas. E tu, o que dizes?"
Eles diziam isso para pôr Jesus à prova e ter um motivo para acusá-lo. Então
Jesus inclinou-se e começou a escrever no chão com o dedo. Os doutores da Lei e
os fariseus continuaram insistindo na pergunta. Então Jesus se levantou e
disse: "Quem de vocês não tiver pecado, atire nela a primeira pedra."
E, inclinando-se de novo, continuou a escrever no chão. Ouvindo isso, eles
foram saindo um a um, começando pelos mais velhos. E Jesus ficou sozinho. Ora,
a mulher continuava ali no meio. Jesus então se levantou e perguntou:
"Mulher, onde estão os outros? Ninguém condenou você?" Ela respondeu:
"Ninguém, Senhor." Então Jesus disse: "Eu também não a condeno.
Pode ir, e não peque mais".
Esta trecho do
evangelho de João não parece em nada com o estilo do Evangelista João. Tem todo
o estilo de Lucas, pois é conhecida a preocupação de Lucas em ressaltar todas
as demonstrações de atenção de Nosso Senhor em relação à mulher e sua intenção
de ultrapassar o quadro jurídico da lei no perdão e na misericórdia. Encaixaria
muito bem em Lucas 21, 37-38 que faz várias alusões a Daniel. Aliás o capítulo
21 de Lucas poderia ser considerado, perfeitamente, como um Midrash de Daniel.
“O termo hebraico Midrash (em hebraico: מדרש; plural midrashim, "história" de
"investigar" ou "estudo") é um método homilético (Pregação ou
Formação textual) da exegese (Interpretação critica) bíblica. O termo também se refere à compilação
integral dos ensinamentos homiléticos sobre a Bíblia. O Midrash é uma maneira
de interpretar histórias bíblicas que vai além de simples destilação de
ensinamento religioso, legal ou moral. Ele preenche muitas lacunas deixadas na
narrativa bíblica sobre eventos e personalidades que são apenas insinuados.”
(Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.)
Parece
evidente, no entanto, que o evangelista tem diante dos olhos a mesma acusação
de adultério que encontramos em Daniel capítulo 13; a mesma reviravolta da
situação a mesma alusão aos velhos; a mesma preocupação dos acusadores em
colocar sua vitima bem a vista; o mesmo apelo à lei de Moisés em lapidá-la.
Cristo se
apresenta como o novo Daniel, justificando não apenas uma inocente, como fez o
Jovem Daniel no Antigo Testamento, mas até mesmo perdoando uma culpada e demonstrando
assim que o julgamento é graça, perdão e misericórdia.
Lá, Suzana era inocente
e teve a vida poupada pela intervenção de Daniel, que representa o testemunho
do povo justo, isto é, perfeitamente observante da Lei. Aqui a Adultera era
culpada e foi poupada pela ação do Cristo que, como novo Daniel, é o embaixador
da misericórdia do Pai, proclamando a nova lei do amor, da caridade, da graça.
Fica ressaltada a humanidade de Cristo em oposição aos velhos escribas e
fariseus.
Aqui a mulher
adultera é a imagem da Igreja: pecadora, mas perdoada, culpada, mas convidada a
não pecar. Experimenta a imensa misericórdia de Deus e nunca mais deixará de
seguir o Cristo. Será a discípula fiel, porque perdoada e amada de maneira
incondicional.
A experiência
do perdão – que a igreja faz, assim como a adultera fez – a experiência do amor
de Deus no perdão recebido, a torna discípula fiel. Experimentar a ação
misericordiosa de Deus na nossa vida é um caminho seguro do discipulado de
Cristo, já agora.
Dessa maneira,
no meio do templo, Jesus se apresenta como o Filho de Deus com entranhas de
compaixão e misericórdia, do qual jorra a vida em abundância para essa mulher e
nela para toda a humanidade necessitada.
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