Is
6,1-2a.3-8
No
ano em que morreu Ozias, rei de Judá,
vi
o Senhor, sentado num trono alto e sublime;
a
fímbria do seu manto enchia o templo.
À
sua volta estavam serafins de pé,
que
tinham seis asas cada um
e
clamavam alternadamente, dizendo:
«Santo,
santo, santo é o Senhor do Universo.
A
sua glória enche toda a terra!»
Com
estes brados as portas oscilavam nos seus gonzos
e
o templo enchia-se de fumo.
Então
exclamei: «Ai de mim, que estou perdido,
porque sou um homem de lábios impuros,
moro no meio de um povo de lábios impuros
e os meus olhos viram o Rei, Senhor do
Universo».
Um
dos serafins voou ao meu encontro,
tendo
na mão um carvão ardente
que
tirara do altar com uma tenaz.
Tocou-me
com ele na boca e disse-me:
«Isto
tocou os teus lábios:
desapareceu
o teu pecado, foi perdoada a tua culpa».
Ouvi
então a voz do Senhor, que dizia:
«Quem
enviarei? Quem irá por nós?»
Eu respondi: «Eis-me
aqui: podeis enviar-me».
Isaías está no
Templo participando da festa da Expiação, no ano 740 – 739 a.C. Está no
vestíbulo do Tempo, de onde pode entrever o Santo dos Santos que se abre
precisamente nesta ocasião, para a entrada do sumo sacerdote. Ele contempla as
estátuas gigantescas que aí se erguem: os dois querubins, com cinco metros de
altura, cobrindo e protegendo a arca com suas enormes asas, e as de outro par
de guardas protetores, parecidos com os templos assírios de então. Estes
trazem, como aqueles, o fogo que consumirá o sacrifício e revelará a presença
de Deus, o Terrível.
Isaías da de
olhos, na penumbra do templo com as enormes estátuas e a presença da arca que
se imaginava ser o pedestal de YHWH. Ai começa sua imaginação, ele pensa ter
sido convidado a uma entrevista com o Todo Poderoso, Senhor dos Exércitos.
Três pontos a
considerar:
1. A
visão de Isaías diz respeito à Santidade de Deus. Liga a presença de Deus ao
Tempo de Jerusalém. E, todo o seu ministério consistirá em tornar o Templo e a
cidade dignos de conter esta presença. Deus porém, é o Santo, isto é, Ele é o
Todo Outro, e por isso o que o toca deve tornar-se também “outra coisa
totalmente diversa”. Isaías vai se tornar o profeta de um povo de “Santos”, o
pequeno “Resto” dos que, para participarem do Reino de YHWH, aceitarem
converter-se e tornar-se “outros”.Os serafins proclamam esta santidade de YHWH
por uma tríplice aclamação que se tornará litúrgica desde o judaísmo, antes de
vir a sê-lo no Cristianismo.
2. YHWH
é o Santo por excelência, sua glória comunica-se não só ao templo, mas ao universo.
Isaías é o profeta deste universalismo, porque ele é fundamentalmente
monoteísta. Se só existe um Deus, sua glória não pode limitar-se só ao templo
de Jerusalém. Antes, deve manifestar-se nos “exércitos dos Céus” e cobrir toda
a terra. Cada acontecimento é um elemento de uma história reveladora de Deus.
Cada homem, cada cultura, são revelações da gloria do Deus único
3. A
descoberta da Santidade de Deus, para Isaías, ou de sua Gloria universal, não
pode limitar-se a idéias ou definições filosóficas: ela é a base de uma
vocação. De nada vale ao homem definir Deus, se toda a sua vida não for o
reflexo desta descoberta divina. Pode-se dizer que Isaias foi conseqüente com
sua visão do templo e que toda sua mensagem pode ser resumida nos temas da
santidade e da glória universal de Deus, a exigir de todos e de cada um as
conversões necessárias para se adaptarem à santidade de deus e a seu desígnio
universalista. Não se pode ver a Deus sem irradiá-lo.
"Eis-me aqui Senhor...
Envia-me a irradiar a vossa Santidade a todo o Universo!"
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